Um


Senhor de azul não me leve ainda não sou velho e pago as minhas contas, juro que sim, que sou bom e cumpro as regras, nem sequer gosto de beber. aquele ali não era eu, era um rapaz mais velho e com mais barba, acho que ele mora com muita gente para os lados do rio, ele tem um emprego decente mas às vezes estraga-se. Mas não era eu, não podia ser, tenho estado aqui o tempo todo. Mas vai-me levar para onde senhor da farda? eu já disse que não sou eu, nem sequer sou daqui, sou dali ao pé da estrada, aquela que é escura e que ninguém gosta de passar com medo. Mas se me vai levar eu quero um senhor de gravata, um amigo que me faz o favor de limpar o cadastro e o dinheiro na carteira, neste amigo com a corda da forca ao contrário, com cores e padrões, neste sim posso confiar. Posso não posso? Devo poder, ele tem um fato tão caro e tão brilhante, penteia-se como se fosse jovem e faz a barba todos os dias antes de sair de casa e dar um beijo na mulher, às vezes quase que fecha a porta com força a mais mas o miúdo que dorme lá em cima não acorda. É um homem de família, o outro de azul é que já não sei. Não confio nele, já li muitos jornais para saber o que a casa gasta. Este aqui é amigo, ele quer-me ajudar a lavar as mãos e assim descobrirem o outro tipo, aquele da barba que tem um problema com a bebida. O senhor da gravata levou-me ao homem de negro. Este tem ar de coveiro, parece zangado, os cantos da boca quase que deitam espuma quando ele me diz que sou culpado. A mão do senhor da gravata encontra a minha num aperto profissional, ele acha que daqui a uns tempos podemos voltar e falar com outro senhor de preto, talvez um preto mais claro espero eu. Vira as costas e vai procurar outro amigo, espero que ele encontre coitado, ele precisa do dinheiro para sustentar a família. E lá vem o homem da farda com os olhos quase invisíveis tapados pelo chapéu, e tão sério que ele está, parece que viu um fantasma ou que cometi algum crime. Do cinto dele saem umas algemas e eu disse-lhe senhor de azul é melhor prender-me antes que estas mãos encontrem outra garganta.

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